Gestão, alguns apontamentos adicionais

Pode-se dizer que a gestão é uma atividade produtiva relacional, que deriva da necessidade humana de garantir sua sobrevivência por meio do trabalho. A gestão, como parte do rol objetos do campo de estudos de administração, se apresenta como um processo socio-histórico necessário e totalizante, cujas nuances se enraízam profundamente mas relações coletivas de produção.

A continuidade do gênero humano passa pela transformação da natureza por meio do trabalho em cooperação coletiva. Graças a capacidade de uma geração legar à seguinte seu modo de vida (junto com saberes, técnicas e processos) — o que caracteriza a constituição da cultura e, posteriormente, o surgimento da história e da educação —, a atividade de integrar trabalhos especializados a recursos e conhecimentos específicos ganha cada vez mais importância. Essa ação humana conhecemos por gestão.

Fazendo um salto histórico-temporal, a partir da idade moderna — caracterizada pela ascensão da classe burguesa a posição hegemônica da sociedade, por intermédio do modo de produção capitalista e suas instituições — se observou a consolidação da economia e da gestão como elementos estruturantes da vida social. Na medida em que o capitalismo é uma forma de sociabilidade pautada na identificação do poder econômico como poder político, as dinâmicas de produção de valor e, consequentemente, seus modos de pensar (racionalidade), tornam-se então também hegemônicos.

Não por acaso, as derivações institucionais da produção de valor — a empresa, o mercado e o Estado burguês, enfim, as instâncias de mediação da relação entre as classes sociais — assumem, no século XX, posições de destaque nas sociedades ocidentais, ocidentalizadas e mesmo daquelas integradas de forma colonizada. As assim chamadas organizações burocráticas se estabelecem como a instituição dominante, assim como a racionalidade instrumental que as caracteriza ganha status de universalidade. No âmbito das relações sociais de produção, a forma que racionalidade assume é a gestão.

Entende-se aqui, por conseguinte, que a gestão é uma ação humana necessária no âmbito da atividade produtiva, que pressupõe as divisões social e técnica do trabalho, visando articular recursos, tecnologias e esforço humano para atingir a objetivos. Na empresa, o locus capitalista de produção e distribuição (desigual) de valor, pode-se assumir que o objetivo fundamental é a valorização de capital. Em outras palavras, a gestão é, portanto, uma atividade teleológica, cujas natureza e modus operandi se vinculam aos objetivos aos quais serve. Esses objetivos podem ser comunicativos, ou seja, podem contribuir para a coletividade, assim como podem ser instrumentais e contribuir para interesses particulares.

Em quaisquer instâncias onde se observe uma divisão do trabalho para a consecução de objetivos, a atividade de gestão se manifesta, quer sistematicamente separada do labor produtivo, quer não. Mas esta não é uma defesa da gestão como uma técnica isenta.

No modo de produção capitalista, todo conhecimento de gestão foi desenvolvido com o intuito de valorizar capital. Logo, qualquer técnica, modelo ou teoria de gestão preconiza (i) economizar e explorar trabalho, (ii) controlar com exclusividade matérias-primas com maior potencial mercantil, (iii) reduzir a capacidade de integração coletiva do trabalhador, (iv) deslocar competidores no mercado, (v) realizar mercadorias, ou (vi) subsidiar ganhos de monopólio, sejam perenes ou efêmeros.

A gestão desenvolvida sob a ótica capitalista não procura atingir os objetivos e expectativas das sociedades, por princípio ontológico. A natureza da gestão capitalista é a valorização e a concentração de capital.


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