Lula está certo, foi golpe!

Vamos dizer com franqueza, 2016 ficará marcado na história do Brasil como o ano do golpe, quer a extrema-direita (golpista!) queira, quer não. Poucos precisam de uma contextualização do caso, talvez ninguém, mas convém fazê-lo assim mesmo. Permitam-me, por gentileza.

Naquele ano (2016), a então presidenta Dilma Rousseff (PT) foi destituída do poder por meio de um mecanismo constitucional, o impeachment, acusada de crime fiscal. Todo o rito foi seguindo de acordo com a lei, institucionalizado, embasado, à risca como diriam os antigos (eu!), exceto por um detalhe: o “crime”, as assim chamadas “pedaladas fiscais“, foram praticadas por todos os outros presidentes, governadores e até prefeitos, antes e depois de 2016, sem quaisquer consequências. Aquele argumento foi uma desculpa tosca, vergonhosa.

Na verdade, a Presidenta sofreu o que chamam de “golpe branco” — do tipo de “branco” que vem da Europa espumando de ódio, rancor e aversão ao banho, te expulsa de suas terras, expropria suas riquezas, estupra suas filhas, escraviza seus irmãos e ainda diz que você só é bom se estiver morto —, uma destituição amoral escondida sob uma aparência hipocritamente legal. Enquanto corria o processo, a primeira Presidenta mulher do Brasil era imolada simbolicamente no altar do machismo e da misoginia nas ruas, bares e TV.

O congresso nacional ratificou o golpe numa sessão vexatória, uma mistura de show de horrores com pornochanchada de baixo orçamento. O ser grotesco, que pouco mais de dois anos depois se sagraria presidente, dedicou seu voto a favor do golpe à um assassino, estuprador e torturador, um militar do exército, o Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ustra havia torturado brutalmente a então ativista e estudante Dilma Rousseff nós porões da Operação Bandeirante (percussora do DOI-CODI), durante a ditadura empresarial-militar de 1964.

O Supremo Tribunal Federal (STF), a corte que deveria defender a constituição, não fez frente ao golpe de 2016. Seu silêncio, covarde, conservador e ilegal, selou um processo falacioso com a coroa da vergonha alheia. Anos depois, Luiz Roberto Barroso, membro do colegiado, confirmaria que a deposição teria se dado por motivos políticos.

Ao contestar a fala do Presidente Lula, que trata os eventos de 2016 como o que foram, um golpe, a extrema-direita brasileira está fazendo o que se espera dela: espuma e desinformação. Não há quem creia que trabalhem, raciocinem ou sejam úteis (ninguém sério, pelo menos), pois sua história, práxis e projetos são e sempre foram para a destruição.

No entanto, urge que a sociedade brasileira não aceite mais esses impropérios. A liberdade de opinião não cobre o ataque contra os próprios mecanismos de liberdade, democracia e dignidade humana. Junto com o direito à liberdade, corre anexa a responsabilidade de cumprir com a verdade e responder pelo que fala. Sob o argumento da liberdade de expressão se escondem ódio, desejos mórbidos, terror. Não cabe mais tratar casos assim como piada, desequilíbrio mental ou exercício de liberdade de expressão. Nunca coube de fato.

Eu defendo o encarceramento preventivo por distorção da verdade. Expurgo dos mentirosos, cadeia para os apologistas, punição contra os omissos.

E por falar em verdades, eis algumas. Em 1964 houve um golpe, uma quartelada da pior espécie. De 1964 a 1985 o Brasil viveu uma ditadura. Se os ditadores eram militares, seus mais entusiastas apoiadores eram empresários. As jornadas de maio-junho de 2013 foram manifestações de extrema direita, que é retrógrada e golpista, saudosa daquela ditadura sanguinária. O ciclo de deterioração política e esgarçamento da trama social que sucedeu aquele ano fatídico (e culminou com o golpe de 2016) não foi um advento, mas o resultado de escolhas estratégicas, entre atores locais e transnacionais. Precisam ser identificados, processados e presos.

Sobretudo, o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff em 2016 foi um golpe. Pomposo em seu espetáculo operado por bandidos, aceito por covardes e comemorado por pessoas apodrecidas, não passou de mais um crime contra a democracia e o Estado de direito. Nisso, a verdade prevalecerá.


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