Nesse post pretendo fazer um convite. Em 2008 publiquei, junto com a então pesquisadora do grupo de estudo sobre administração política da Escola de Administração da UFBA, Clara Marinho Pereira, esse artigo teórico intitulado Administração Política e Gestão do Modo de Produção. É um texto elaborado por dois graduandos, sob orientação do saudoso Prof. Reginaldo Souza Santos, com suas dificuldades e imprecisões. Mas, também é um texto do qual me orgulho muito, pois iniciava-se ali minha trajetória de publicação. Ademais, era o primeiro número da Revista Brasileira de Administração Política, cuja história já conta com mais de 15 anos de produção sobre o tema.
Então, que tal uma prévia do que discutimos ali? Vamos a isso.
Primeiro, um parágrafo de desambiguação. O termo “administração política”, ao menos na academia brasileira, assume duas ascepções. A primeira, mais comum na ciência política, sugere que esse termo corresponde às práticas de articulação de interesses, mediação de propostas e poder, a partir de um governo estabelecido numa unidade política soberana (município, estado ou país), com fins de garantir governabilidade. Nos estudos organizacionais, por sua vez, administração política surge na Escola de Administração da UFBA como uma maneira de expressar os aspectos gerenciais da concertação social capitalista, da maneira por meio da qual se tomam decisões de longo prazo em sistemas econômicos complexos. O artigo em questão trata da administração política a partir dessa segunda ascepção.
Partindo dessa premissa, eu e a Clara Marinho analisamos a história do capitalismo — num plano de elevada abstração — para identificar o que entendemos por padrões de gestão. Encontramos duas linhas argumentativas. Na primeira, em grande parte contribuição da Clara, observou-se as transformações de gestão da empresa capitalista, desde o fordismo-taylorismo até o que se convencionou chamar de gestão flexível, demonstrando que diferentes momentos históricos são marcados por convenções de gestão da organização produtiva que são típicos, formando um zeitgest gerencial.
A segunda linha argumentativa, decorrente de minhas leituras, evoca a perspectiva de economia-mundo braudeliana para destacar que os diferentes ciclos sistêmicos de acumulação capitalista ao longo da história foram caracterizados por princípios de gestão próprios, tanto no Estado como na Empresa. Assim, a liderança exercida por um país da economia-mundo capitalista se pautaria em duas dimensões de gestão, uma de organização produtiva (conforme destacado antes), outro na estruturação de uma arcabouço político-jurídico que oferece sustentação para aquela organização produtiva singular. Da mesma forma, a competição entre as nações se daria por meio da proposição de alternativas de associação Estado-empresa que tentariam atrair o capital circulante no plano internacional.
Disso, no texto nos derivamos duas conclusões principais. A primeira, que o elemento estruturante da sociabildiade capitalista é a gestão, esta manifesta na organização produtiva e no Estado ampliado (incluindo as assim chamadas instituições da sociedade civil organizada). A segunda, que num dado arranjo político-produtivo, numa via de desenvolvimento, paira de forma imanente um conjunto de padrões de gestão considerados racionais a priori. Esses padrões conformariam um zeitgest gerencial, socialmente construído e historicamente dinâmico, os quais deveriam ser assimilados em todas as organizações, quer públicas, privadas ou do terceiro setor.
Bem, isso aqui foi um resumo sumário. Convido a leitura e, se puderem, a compartilhar suas impressões, críticas, sugestões, sobre o texto. Pode ser acessado na íntegra seguindo o link da referência, logo abaixo.
Referência
Cristaldo, R. C. & Pereira, C. M. (2008). A administração política e a gestão do modo de produção: processos gestoriais, da organização produtiva do trabalho até à economia-mundo capitalista. Revista Brasileira de Administração Política, 1(1), 67-90. https://periodicos.ufba.br/index.php/rebap/article/view/15483
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