A Liderança na Empresa

Líder servidor, líder visionário, empreendedor, coach, o imaginário empresarial está repleto de imagens românticas desse que é o herói dos contos de fadas capitalistas. De um lado, é a referência inspiradora da equipe, de outro é o encantador de serpentes capaz de fazer empregados produzirem cada vez mais enquanto ganham cada vez menos. O fato é que a função de liderança exerce um papel fundamental na mediação do conflito de classe e, por isso, convém expor algumas de suas contradições.

O líder é alguém que dever ser seguido. Essa ideia parte da premissa de que é importante que exista uma separação entre o pensar (o trabalho intelectual, complexo, singular) e o agir (trabalho manual, simples, ordinário). Por isso, os que seguem devem abdicar de uma instância de raciocínio complexo, se especializando em funções simplificadas e alienadas, assim concedendo ao líder a visão de todo, a função de outorga de responsabilidades e o delineamento das expectativas. A necessidade do líder é a presunção da inépcia do liderado, que é submetido ao jugo de não ter a necessidade de pensar. A liderança é, portanto, a subsunção da racionalidade do trabalhador.

Além disso, o líder é um mediador. A relação capital/trabalho é caracterizada pela exploração. Porém, explicitar a natureza desse tipo de interação coloca em risco a aceitação, por parte do explorado, da condição subalterna que lhe é imposta. Por isso, o capitalista delega a outro trabalhador — assalariado, mas também explorado em um certo nível — o exercício diário da exploração. A partir daí, o líder convence, estimula, motiva o trabalhador a produzir mais, a trabalhar sem queixa, a “vestir a camisa” da empresa. O líder cerceia e determina a atitude esperada no trabalho, convence para que aja de uma maneira e não de outra, castiga o comportamento desviante. Nesse sentido, liderança assume a carapuça do controle.

Visionário, o líder é considerado o revelador do jeito mais correto, mais justo, de pensar e fazer o trabalho. Ele detém a iluminação de qual é o objetivo verdadeiro, é portador da lâmpada que ilumina o caminho. Quaisquer outras formas de pensar e interpretar a organização, as relações de trabalho, as maneiras de fazer as coisas, ou são rejeitadas, ou precisam passar pelo julgamento de quem lidera. Isto porque, para o capital — lembremos, o líder sempre é o proxy do capital — interessa apenas uma alternativa: aquela que maximiza a extração de mais-valor. Esse curso de ação nega a opinião, os interesses, a voz potencialmente discordante de quem efetivamente trabalha. Dessa forma, liderança faz um esforço de dissuasão.

Subsunção, controle e dissuasão são o cerne da liderança. Toda maquiagem ao redor, as palavras da moda, o discurso vazio do diálogo que sai das falas equilibradas e ponderadas de quem se propõe líder na empresa capitalista (assim como nas instâncias capitalistas da política, ideologia e violência, como no Estado, na Igreja e nos aparatos de segurança pública), servem apenas para escamotear a verdadeira função da liderança. E qual seria? Em uma sentença simples, aprisionar a razão, o agir e a opinião do trabalhador, para que este se reduza a uma coisa, um objeto cuja única função é produzir mais-valor.


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