A realidade da banda é esta que existe entre o Facebook, o JN e a Revista Veja, esse lugar-nenhum construído apenas pela possibilidade de isolar condomínios de luxo com muros altos e densas cercas vivas, os quais impendem que os “de fora” sequer vejam o que é a verdadeira civilização. O problema é que as cercas que previnem a cobiça dos outsiders também distorce a percepção dos de dentro. Enfim, boa banda. Péssimo mundo.
“Não olhe para cima”, um louvor
O que parece uma comédia de erros é, na verdade, um drama de realismo cru e verossimilhança chocante. Não apenas decorrente do brilhantismo dos cineastas, mas sobretudo por causa do fato de que vivemos em uma era de declínio cognitivo coletivo, numa sociedade dominada pelo efêmero e pelo inútil. O cômico e o ridículo da plot doém como um golpe bem dado, porque também são a imagem real de nosso tempo.
O coringa
Essa plot me chamou a atenção por dois motivos. O descenso da personagem rumo a dissociação completa expõe, de certa forma, o risco generalizado em se enfrentar uma situação social de crescente desmantelamento de estruturas de sociabilidade, como o emprego, a educação, a saúde pública, a confiança na classe dirigente, a emersão do fascismo. Um enfrentamento que o povo trava desaparelhado e desassistido, de frustração em frustração, o que pode levar à uma situação de rompimento com o compromisso de integração coletivo.