A noção de Deus é uma simples construção psicológica; uma inclusive sequer particularmente complexa. Qualquer presunção de que exista objetivamente uma entidade cujo papel corresponda às expectativas das grandes religiões não passa de mera ingenuidade.
Freud demonstra como a ideia de um deus-pai é a manifestação rudimentar do desejo por um pai protetor, contra uma realidade/natureza cuja compreensão sobrecarrega o intelecto; o “deus” revelado por Freud seria o produto de uma neurose obsessivo-compulsiva, diante do pavor e da incerteza do desconhecido. Jung acrescenta como subjaz na mente humana uma pulsão (primitiva, pueril, imatura) pela adoração, pela terceirização da responsabilidade e atenuação do medo na construção de uma dimensão de espiritualidade com funções de castração coletiva.
Marx, por sua vez, ressalta o papel político da religião. Os alívios catárticos do numinoso, segundo o filósofo alemão, atenuam a insatisfação e a revolta com a exploração capitalista, mantendo trabalhadores cordatos e passivos. A religião é o ópio do povo, pois instrumentaliza o estranhamento do corpo por meio de uma alienação do espírito e da vontade. Mais recentemente, com as seitas cristãs neopentecostais, a própria religião se eleva/rebaixa à opção de investimento e oportunidade de negócio, concentrando parte da renda dos trabalhadores nas mãos de estelionatários, enquanto cumpre função de lavagem de dinheiro de atividades ilícitas.
Não se percebe, objetivamente, qualquer benefício advindo da religião. Por outro lado, guerras, morticínios, genocídios, fogueiras, cruzadas, terrorismo, é longa a lista de atrocidades cometidas em nome de Deus, ou ignoradas por Ele entre seus “escolhidos”. A sobrevivência dessa institucionalidade corrupta, desse dispositivo discursivo perverso que chamam de “deus”, só pode ser creditado ao seu potencial de controle, alienação, castração e martírio popular.
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