Estou com o PT e suas contradições. E, sobretudo, com Lula.
Não estou com o PT paulista, aquele do campo majoritário. Esse PT da cidade-âncora do Brasil, do berço de nossos piores fantasmas, é em grande parte farinha do mesmo saco. A longa lista de decepções que SP legou ao Brasil inclui até um PT fisiologista.
Não. Estou com o outro PT. Aquele do nordeste, do povo que fecha com Lula pois foi o único que levou casa, luz, água, escola, universidade, médico e bolsa-familia para o que precisavam.
Lula, embora mais paulista que nordestino, percebeu que esse objetivo maior justificava qualquer conduta.
Pagou o preço, foi julgado, difamado e encarcerado. Terá comprado votos? Enriquecido? Favorecido apoiadores? rs… Não se sabe, mas sofreu como tal.
(Um AP de R$ 3 milhões e uma sitioca com piscina seriam um prêmio mais do que justo por tudo que fez, mas, ok!).
Do outro lado, o chefe da familícia.
Ao menos o Bozo não esconde suas intenções nefastas: é honestamente bandido e abertamente pseudo-nazista (isso mesmo, “pseudo”, pois nem fascismo é capaz de fazer). Cartoonesco, entendeu que os toscos, os rudes e os estúpidos também votam. Fiel às suas promessas, disse que ia roubar, matar e destruir e está entregando exatamente isso.
Bolsonaro é a radicalização da direita. O extremo da direita é ódio contra pobres, pretxs, LGBTQIA+’s, índios, artistas, professorxs, esquerdistas, contra todxs capazes de lembrar o quanto o direitista é mesquinho e egoísta. O presidente galvaniza e personifica isso com algum sucesso. Um agente do ódio, da maldade, do atraso e da ignorância.
Aos que pensam numa tal “terceira via”, vejo as alternativas com o que merecem, desprezo.
Ciro é incapaz de aplainar seu orgulho de coronel; nunca conseguiu, nunca conseguirá. Tão tosco quanto o Bozó, de bravatas e dados distorcidos, segue driblando a lógica e o bom senso em nome de um projeto, que não é de Brasil, mas de poder pessoal. Quando teve a oportunidade de fazer algo pelo coletivo, falhou. Assistiu a debacle de seu país a partir da França. Fugiu, primeiro da responsabilidade de se posicionar, mas sobretudo da derrota que o persegue desde seu romance com o PSDB neoliberal. Fugiu como um branco rico. Para o exterior, para se limpar do Brasil.
Maia era só mais um filho da milícia e das “rotas da seda” cariocas. Não esqueçamos quem é o seu pai… aliás, creio que o filho o venderia assado em espetinhos de rua para continuar no poder. Ainda assim sumiu.
Leite, Doria, Moro, Mandeta, são suas formas mais modernas e, como tal, escondem esqueletos dentro de esqueletos, em busca de brilharecos na expectativa de serem o cometa da vez. Para mim, é triste assistir pessoas adultas se engalfinhando por migalhas da atenção dos ricos.
Esse tal centro moderado, que sorri de dentro de seus ternos Armani e vestidos Vutton enquanto enfia as reformas neoliberais goela abaixo de quem ousou ter esperança, é igual ao Bolsonaro. Isso inclui aquela tal novidade paulista, financiada pelos “empreendedores da política” (como de fosse novidade uma empresa financiar um político para enganar o povo), formada nas igrejas liberais dos EUA e comprometida apenas com o capital.
Pode até me chamar de radical. Eu sou mesmo.
Concordo com, celebro até, a práxis do assim chamado lulopetismo: para assistir ao pobre vale tudo, abraçar o diabo, empregar mordomo de filme de terror, eleger o inimigo consigo mesmo, até chocar o que diz a “moral” burguesa sobre como cuidar do “dinheiro público”.
Aliás, ali está a raiz do problema… o governo Lula ousou pegar o tal dinheiro público e distribuir um pouco, só um pouco para, pasmem, o público. Já foi suficiente para o pobre mostrar, na competição (injusta e desigual) de mercado que, quem luta para viver agarra as poucas chances à unha. Somos mais capazes.
Os que ocupam o topo da pirâmide, a fração social pseudo-branca de pseudo-elite brasileira, simplesmente não aguentou a pressão. Tentaram melar as eleições, embarcaram no roteiro de golpe do departamento de estado norte-americano, fizeram surgir um fascista e, agora, não sabem como resolver o problema. Tudo por medo da favela.
Não nos enganemos com os discursos pacificadores e da união contra o mal maior, porém. Se engrossarmos suas fileiras, serviremos como bucha de canhão, almofadas de baioneta. Aqui chegamos ao X da questão, o que fazer? Na minha humilde opinião, a única saída é pra frente.
Precisamos parar de meramente defender direitos e ir em busca de mais. Jornada de seis horas, dois dias de descanso semanal remunerado, reajste salarial acima da inflação, imposto de renda fortemente progressivo, novas regras contra especulação imobiliaria, nova lei de herança, reforma agrária ampla, massiva e universal. Ao longo da historia, o capital só cedeu com lutas, então, lutemos.
Luta de classe não é sarau, não é convescote de ideias “progressistas”, não é mesa de estudos críticos em congresso de elite, não é diálogo de conciliação, não é concurso de ética. Luta de classe é trabalhador na rua e produção parada. É sangue, suor e lágrimas. É cassetete no lombo. É guerra. Na guerra e no amor vale tudo.
Hay que endurecer! Dane-se a ternura.
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